Olá, pessoal, tudo bem?
Na Lide de hoje teremos a estreia de uma coluna sobre jornalismo econômico, as tradicionais dicas de leitura e uma novidade do InsperJor: a nova turma do Master em Jornalismo de Dados, Automação e Data Storytelling está com inscrições abertas.
Vamos nessa?
>> Na Lide de hoje tem estreia: a coluna do Centro Celso Pinto de Estudos de Jornalismo Econômico, assinada pelo coordenador Carlos Eduardo Lins da Silva, traz reflexões e comentários sobre temas ligados à cobertura econômica. A coluna será fixa, mas hoje trazemos ela com destaque para você. Leia:
Um tipo de erro comum e irritante no jornalismo, inclusive na especialização da cobertura econômica, ocorre quando se lida com números.
Em 17 de abril, o Nieman Journalism Lab da Universidade Harvard publicou um post intitulado “Todo mundo erra com números, até o New York Times”.
Ele reproduz texto originalmente divulgado no blog “Climateer”, no Substack, com um título provocativamente radical: “Nunca confie num número”.
Seu autor, que se identifica apenas como Steve e se classifica como “engenheiro de software e empreendedor transformado em climatologista amador”, defende a tese de que ao se defrontarem com um número, todos devem assumir que ele está errado.
Para reforçar sua hipótese, Steve dá dois exemplos retirados da edição de 24 de fevereiro do “New York Times”, ambos editados com destaque pelo jornal.
Na linha fina de uma dessas matérias, o “Times” afirma que o mundo havia passado de meio milhão de casos conhecidos de infecções pelo vírus SARS-CoV-2, que causa a Covid-19.
O número certo é meio bilhão. O autor argumenta que neste caso o número é tão “terrivelmente incorreto”, que ele é perceptível em qualquer inspeção casual, e atribui o equívoco a um possível erro de digitação, o qual, no entanto, passou batido por todo o processo de edição de um dos melhores jornais do mundo.
Mas Steve mostra outras situações em que erros muito mais sutis causam confusão e eventuais prejuízos. Muitas vezes, os números estão até certos, mas o raciocínio em que eles são inseridos leva a conclusões errôneas.
Ele generaliza: todas as pessoas deveriam, quando confrontadas com números, aplicar sobre eles um filtro rigoroso para tentar certificar-se de que o autor do texto que os utiliza compreendeu o problema de modo adequado.
Erros desse tipo são de tal maneira corriqueiros no jornalismo, que empresários, economistas, pesquisadores das ciências exatas, profissionais que têm de lidar com números como sua principal ocupação, acabam por assumir preconceito em relação a jornalistas, muitos dos quais compartilham desse preconceito.
Outro texto, este acadêmico, publicado em 31 de março pela revista “The Conversation”, embora não resolva o problema, pode oferecer algum consolo a aos repórteres e editores que enfrentam percalços numéricos: a neurociência tem demonstrado que quase todos os humanos sofrem ao lidar com números.
O artigo é intitulado “Cérebros vão mal com números grandes, tornando impossível compreender o que significa um milhão de mortos pela Covid 19.
Suas autoras são Elizabeth Y. Toomarian, e Lindsey Hasak, da Universidade Stanford. Elas dizem: “Para a maioria das pessoas, visualizar o que é um milhão de qualquer coisa é uma tarefa impossível. O cérebro humano simplesmente não foi feito para entender números tão grandes”.
Elas citam diversas pesquisas que comprovam essa hipótese e descrevem como os seres humanos processam números no córtex parietal e como fica mais difícil manejar quantidades maiores do que cinco unidades.
Todo mundo sabe distinguir 2 de 5, por exemplo. Mas à medida que crescem as quantias, a visualização se complica, e a capacidade de reconhecê-las e de relacioná-las com a realidade cotidiana diminui muito.
Elas mostram que muitas pessoas colocam o número um milhão quase no meio de uma linha que começa com mil e termina com um bilhão, embora um milhão esteja mil vezes mais próximo de mil do que de um bilhão.
Para a maioria das pessoas, quando tem que se envolver com números com os quais elas não interagem no seu dia-a-dia, valores precisos significam pouco.
Durante décadas, bons líderes de redações vêm recomendando a suas equipes que sempre tentem “materializar” os números, em especial os grandes.
Quando se diz que as despesas extras que o governo está fazendo este ano vão representar um rombo fiscal de R$ 82 bilhões para o próximo presidente, é preciso relativizar esse número (quanto por cento isto representa do orçamento ou quantos salários mínimos somam essa quantia).
Jogar números nas matérias, ainda que corretos, sem contextualizá-los faz com que eles sejam incompreensíveis para a maior parte do público. É preciso fazer um esforço didático para que todos os cidadãos compreendam o que os números representam. E, evidentemente, é indispensável checá-los e rechecá-los até se ter absoluta certeza de que se trata de milhão ou bilhão.
⚡Lemos, gostamos, compartilhamos!
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⏩ Se você ainda não ouviu, fica a dica do ótimo The Data Journalism Podcast. Apresentado por duas referências na área, Alberto Cairo e Simon Rogers, o podcast mensal traz conversas sobre bastidores de reportagens e projetos jornalísticos baseados em dados. Digno de maratonar, hein?
⏩ Se você trabalha com produto no jornalismo ou se interessa pelo pensamento de produto, a newsletter The Beautiful Mess, do John Cutler, é leitura obrigatória. Em posts curtos, ele traz reflexões sobre o desenvolvimento de produtos em times multidisciplinares escrevendo no estilo "pensando alto", levando o leitor por toda a sua linha de raciocínio.
🎯 Ferramenta do mês
Segurança digital é um tema que não sai de moda para jornalistas, e um dos passos mais básicos para evitar roubos ou invasões das nossas contas é a autenticação em duas etapas (2FA). Ela consiste em adicionar uma camada de segurança além da senha, e muita gente utiliza o envio de códigos pelo celular. Mas vale considerar uma chave de segurança física. Ela é mais segura que métodos 2FA que utilizam mensagens de texto, aplicativos autenticadores e notificações push. Isso porque as chaves não são vulneráveis a ataques de phishing. Se alguém pode te induzir a digitar sua senha, também pode fazer o mesmo com códigos ou notificações.
🎓 Enquanto isso, no InsperJor…
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Até a próxima!
Equipe InsperJor